Zeca diz adeus
Zeca arrastou seu coração pesado até a estação de trem. Deixou que algumas composições passassem, pois não sabia se ia passar. O quê? Tudo. Apesar de não ter garoa, era como se ela estivesse lá para umedecer seu coração, que, sustentando aquele sentimento abafado, acabaria mofado - pelúcia esverdeada.
E em tom de mofa ele tinha saído. Seu sarcasmo e seu pior lado tinham sido despejados sobre ela - um balde de água fria. Aonde ela foi? Será que volta? Será que eu volto? Mais um trem passa apitando que uma moça entre logo logo logo. Ela tinha medo de relógios. Temia ser aprisionada por um deles, por isso não sabia que ficava ou se partia. O medo de se deixar levar pelo tempo cronometrado. Mas o trem tinha que seguir! Um pé para dentro, outro para fora.
Zeca pensava entendê-la.
E veio a garoa. Claro, ela sempre vem para encardir a nossa alma insípida. Zeca tinha medo das nuvens que se aproximavam porque elas tinham a certeza que lhe faltava. E seus olhos vertiam reticências que escorriam pelo seu rosto e inundavam tudo o que havia por perto.
Tinha medo da decisão das nuvens, do fatalismo dos relógios. Tal era o seu fracasso que abraçava desesperadamente o tempo psicológico como se nada mais importasse. Era o seu tempo e de mais ninguém. Jamais poderia dividi-lo. E via em sua mente os ponteiros se derretendo - cera vermelha. Mas não havia vela acesa - tinha medo do fogo.
Mas o seu maior medo era outro. Borbulhava sanguineo e intenso por trás de seu rosto macilento e morto. Máscara abortiva. De suas orelhas, cheias de dúvidas, emergiam pontos de interrogação:
Teria ele deixado para trás uma muleta emocional ou o grande amor de sua vida?
Ouvindo Goodnight goodnight (Maroon 5)
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