Lili e o guia


Lili se levantou de madrugada. De um sonho pulou da cama. Sonho ou pesadelo? Ah! Depende oras... E aquela onda de relativismo que quebrava novamente na praia. Lili brava? Não, mas queria entender as coisas e o tempo. Para ela, tudo era muito claro e certo - uma certeza tão aguda que doía e parecia perfurar sua pele clara.

O seu sonho?

Tranquilamente, o homem alto e grisalho lhe disse:
- Você é nova aqui, então eu vou te guiar.

Em seguida, vendou-a delicadamente e pegou sua mão. Lili sempre muito obediente, seguia de olhos fechados, mesmo usando a venda escura. Todos os seus outros sentidos apuravam-se conforme a caminhada prosseguia. O homem transmitia-lhe confiança e tranquilidade e não obteve qualquer resistência por parte dela: Lili se deixava guiar cegamente.

Ele começou caminhando lentamente, segurando-a suavemente por um braço, às vezes  o ombro. Se estavam num corredor, acelerava o passo e mantinha-se mais próximo dela. Não tardou para que ele pegasse sua outra mão e a guiasse em direção a tudo que estava ao redor de ambos. Ela sentiu  a  maçaneta de bronze. A unha de gato que crescia rebelde. A balança e o escorregador molhado no parquinho.

Chegaram a um lance es escadas. O homem colocou a mão direita de Lili no corrimão para que ela subisse, pois não podia lhe dizer nada. Ela logo entendeu e deu um passo confiante. Subiu ainda muitos degraus, desceu outros tantos - sempre confiando em seu guia mudo. Cheiros e toques e o vento bagunçava seus cabelos. Lili riu. No silêncio mudo no qual havia mergulhado, Lili via cores que nunca tinha percebido antes. E seus olhos estavam vendados.

Quando acordou, ainda  tinha em suas mãos aquela sensação das nuvens que haviam passado por elas.

Ounvindo I thought I saw your face today (She & Him)

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