Diário: O que você tem na cabeça?


Sabe-se lá o motivo, mas desde o princípio dos tempos as pessoas se sentem a vontade para falarem sobre suas vidas comigo. Principalmente no que se refere à vida amorosa. No começo eu estranhava, porque não tinha experiência alguma nem namorado. Então o que poderia fazer por elas? Mas depois, passei a me sentir feliz por elas acharem que eu podia de fato fazer alguma coisa.

Se por um lado me faltava a experiência, por outro, sempre me esforcei para ser sensata e ter a mente aberta. Dizem que o que vale é o esforço, não? Acho que isso compensou um pouco no final das contas. Eu sempre soube que não existem fórmulas perfeitas para relacionamentos felizes, mas ultimamente gostaria que houvesse...

Maaaaaaaaaaas* que graça teria se tudo já estivesse pré-estipulado?

Às vezes desconfio dos meus ditos "conselhos" - quem diabos sou eu para dar conselhos? Quando tal sentimento surge, eu desprezo meus conselhos, não os levo à sério. Isso também funciona quando se está chateado. Okay, "desprezo" foi uma palavra indaqueda. O que eu realmente (acho que) estou querendo dizer é que devemos dar a cada coisa o seu devido valor - e conselhos e sentimentos são relativos e passíveis de enganos mil.

Por esses dias, esbarrei com a minha pequenez diante do mundo duas vezes - e incrivelmente não me senti mal por isso. Só me senti mal por não ter podido ajudar os dois: uma amiga com problemas com o namorado e um amigo que não sabe como pedir uma garota em namoro. Eu percebi que o máximo que podia fazer era ouvi-los, porque as coisas estavam fora do meu alcance.

Será que eu preciso mesmo entender tudo? Ter todas as respostas? Absorver tudo (Síndrome do Papel Toalha)? A resposta é não. E uma das metas de 2010 é aceitar isso e aprender a lidar com as não-resoluções e com as coisas que não consigo entender.

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Hoje tive que sair de casa e chovia canivetes. A princípio, me senti um pouco ridícula na minha capa-de-chuva [amarela], mas depois, me senti seca - passando do emocional para o sensorial -, já que eu era a única pessoa completamente seca nadando andando na rua.

E me senti curiosamente corajosa, enfrentando as calçadas alagadas, os carros passando velozes, a lama... Foi uma sensação de liberdade que eu não sentia há algum tempo. Acho que eu tenho fugido demais da chuva.

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Tudo porque fui cortar o cabelo, depois de muito protelar. "Adeus cabelos compridos", como foi difícil dizer isso. Apego bobo, isso é fato. Há quem se apegue à barba, eu me apegava ao cabelo. E cada vez mais curto. Nunca mais terei o cabelo da Winnie Cooper, esses tempos se foram.

Pensei comigo mesma: 2009 foi um ano de muitas mudanças, sendo que 85% foram "impostas." Por que não começar 2010 com uma mudança voluntária? A minha lista de planos para este ano é muito séria, então decidi começar com algo superficial, como um corte de cabelo. Feito.

E essa história me fez lembrar de um dos meus filmes preferidos, "Sabrina" (1954). Há uma cena em que Sabrina Fairchild, interpretada pela adorável e fantástica Audrey Hepburn, lamenta que a sua mudança só havia sido externa - o seu corte de cabelo.

Entretanto, se compararmos quem ela é no começo na narrativa e quem ela é agora, no momento que declara não ter mudado nada, percebemos que ela mudou sim. Mudou por dentro. Nunca vou esquecer da cena na qual ela prepara o jantar para Linus Larrabee (Humphrey Bogart)...

Claro que não foi o corte de cabelo que a transformou (!), acho que ele serviu para mostrar as mudanças pelas quais ela já tinha passado ou ainda para demonstrar as mudanças pelas quais ela queria passar. Bom, acho que essa é a minha leitura... Ou poder ser tudo fruto da minha imaginação - não seria a primeira vez ah!

Confiram "Sabrina"** (1954) Destaque para "La vie en rose". Quem quiser ver a versão de 1995 pode ver, mas Julia Ormond, apesar de muito bem no papel, fica no chinelo perto de Miss Hepburn.


* Desculpem a escrita, mas na ausência de prosódia é necessário improvisar...
** Adoro esses trailers antigos!

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