Diário: "Goodbye to romance"


Quem diria que eu começaria o terceiro dia do ano embalada por uma balada de Ozzy? Eu me lembro de estar sentada com dois amigos nos sofás empoeirados da faculdade. Era 2005 ainda e eu era uma tolinha. Lembro que estávamos falando sobre música e eu disse que havia canções que deviam ser ouvidas no carro, mas não enquanto estamos dirigindo, e sim, enquanto estamos olhando o mundo lá fora pela janela do carona. [Acho que às vezes olhamos para fora na tentativa de encontrarmos o que há dentro de nós...]

Eles ficaram curiosos: quais seriam essas músicas de "passeio"? As duas que me vieram imediatamente: "Goodbye to romance" (Ozzy Osbourne) e "High" (The Cure). E ainda hoje me pego pensando em como as músicas podem se misturar à diferentes épocas e às pessoas que passam por nossas vidas. Veja bem, eu disse passam - como eu me imagino passando de carro pelos lugares, olhando os prédios e ouvindo:

I've been the king, I've been the clown
No broken wings can't hold me down
I'm free again
The jester with the broken crown
It won't be me this time around to love in vain


Faz poucos dias que assisti Mike Mills falando que as músicas de Michael Stipe podem ser lidas como tristes ou cheias de esperança. Ora, será que esse "ou" não poderia se transformar num "e"? Uma coisa não precisa existir em detrimento da outra, basta que se faça uma leitura dupla...

Uma vez eu perguntei a ela se gostava de Placebo - agora percebo a dupla e curiosa leitura disso... - e ela me respondeu que o grupo lembrava-lhe uma certa pessoa. É engraçado como há perguntas cujas respostas esperadas (e, a princípio, as únicas possíveis) são "sim" ou "não", mas que podem nos supreender. É como se o "sim" e o "não" não importassem, por haver coisas mais complexas do que isso. A vida não é só o preto e só o branco: entre ambos há milhares de matizes e possibilidades.

Do mesmo modo, há coisas que não são nem boas nem más: simplesmente são - o que não significa que há neutralidade. Neutralidade não existe, é como se ela fosse o centro da Terra: podemos nos aproximar das camadas mais profundas, mas nunca entrar em contato direto com ele (vulcões estão excluídos da metáfora).


O que eu poderia ter dito a ela? "No more tears", pois esperar algo como "Changes" dos outros está completamente fora de cogitação. E isso é triste, o que não impede que haja alguma esperança... Acho que tudo passa. E conforme a gente amadurece, passa de modo mais suave e a insônia já não dura tanto.

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Descoberta: Preciso rever conceitos básicos de Biologia, pois não lembrava que as moscas vêm de larvas (!).
Filme: Juno (2007)
Sabor: Suspiro de limão com mousse de chocolate.
Palavra(s) do dia: baby teeth (dente de leite).
Lição aprendida: A maior parte do nosso sofrimento é nossa própria responsabilidade, pois está ligada ao que permitimos que os outros no façam e a interferência que deixamos que tenham em nossas vidas. Me incluo nisso.
Elogios: Cuidado com o que é doce demais. Suspeite das más intenções das cáries.

Comentários

biel madeira disse…
não conhecia goodbye to romance!!!!
mas é incrível mesmo! e qto ao olhar pra fora... o mesmo se dá em viajar mas é qdo olhamos pra fora q estamos realmente sós? (eu sempre penso nisso!)

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