Nat King Cole e a memória

Eu devia ter entre seis e sete ano quando conheci Nat King Cole. Passava de carro pelo viaduto Washington Luís quando começou a tocar uma certa canção no rádio. Larguei a boneca no banco e parei para prestar atenção. Não sabia nada de inglês, mas me apaixonei pela melodia e pela voz. Uma música daquelas não poderia ter uma letra que não fosse igualmente linda.

Passei muito tempo com aquela canção na minha cabeça, como uma canção de ninar. Unforgettable tornou-se parte de mim naquele dia. Ouvi-a ainda muitas vezes, ainda sem saber de quem era. Um dia perguntei ao Pai Forster e ele, também um apaixonado, me contou quem era e que outras coisas bonitas tinha feito.

Por algum motivo, Nat King Cole adormeceu em mim e só despertou de volta quando entrei na faculdade. Acho que entrei numa onda de busca. Busca por tudo, resumidamente. A partir daquele momento, Nat King Cole veio a ser trilha sonora de alguns romances, mas dos períodos de solteirice também. Unforgettable esteve entre as músicas importantes, mas principalmente Stardust, para a qual fiz um post há uns anos atrás e a qual dediquei à uma pessoa que foi, sem dúvida, muito importante.

Nat King Cole se tornou uma coisa intrínseca a mim. Li por esses dias que quanto mais associações uma certa coisa ou pessoa tem na sua cabeça, mais difícil fica de esquecê-la. E com este cantor/compositor/intérprete foi assim: ele se tornou associado a tantas coisas e pessoas que, se lembro dele, vem toda uma carga emocional, de experiência, de vivência - coisas que nem sempre eram boas.

E eu naquela ânsia doida de esquecer tanta gente e tanta coisa aprendi. Aprendi que é bom lembrar as coisas ruins para não cometer os mesmos erros e que é bom lembrar as boas porque... Porque são boas e fazem bem oras! Se foi bom, porque o pudor ao lembrar? Principalmente se a trilha sonora é de Nat King Cole? Se passou, passou, nada há de se fazer. 

Mas aprendi também que se esquecer não é o caminho, nostalgia também não é. Tanta coisa por viver ainda e eu simplesmente não posso reviver aquilo o que já vivi. Sou outra, somos outros. Os tempos são outros. As alternativas são outras, com direito a N.D.A. Se não me agradarem, crio outra ou fujo para Marte. Ou saio de moto na calada da noite, num zumbido secreto e ares de aventura.

Para que complicar? Deixo Nat King Cole fazer parte da minha vida e deixo que traga com ele, irremediavelmente, tudo aquilo o que ele simboliza, tudo aquilo o que expressa, toda a sua bagagem - ou melhor, a minha bagagem. E deixo também que certas coisas passem, mas faço questão que Nat King Cole permaneça - permanentemente.

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